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Perplexidade é a marca do nosso tempo. A rapidez das mudanças tecnológicas, sociais e ambientais dificulta nossa capacidade de adaptação. De uma hora para outra passamos a ter uma percepção do que acontece no mundo todo, o rádio, a televisão e a internet foram cada vez mais ampliando a possibilidade de sentir o que acontece no planeta, além de nossa paróquia. A facilidade de locomoção permite que se busque ou sonhe com lugares distantes. As alternativas de como viver que eram limitadas, hoje são infinitas.
O humano, colocado diante da avalanche de informações (verdadeiras e falsas), com possibilidade de comparar seu estilo de vida com os mais abastados e também com os miseráveis, perde suas referências. Observando o que proporciona a riqueza (sempre haverá alguém mais rico), é legítimo aspirar poder gozá-las, mas a realidade nem sempre colabora e o desejo não é realizado. Alguns, diante desta impossibilidade, se ressentem, abalados, magoados.
Por outro lado, olhando para baixo, para a pobreza e miséria, surge o medo de cair no abismo.
Assim estamos nós, nos dias atuais, sonhando uma vida de nababo e com pesadelos de escorregar para classe social inferior. O medo, assim como o ressentimento, pode levar o indivíduo a fugir da realidade, buscando na fantasia uma pacificação interior, criando mitos para preencher uma falta de explicação e dar sentido àquilo que não possui nenhum sentido.
Pessoas com medo e/ou ressentidas, quando incapazes de lidar com esses sentimentos, tornam-se presa fácil dos que têm capacidade de construir uma narrativa do mito, que nasce e se consolida a partir da aceitação coletiva, ou seja, ele só existe quando cai no senso-comum.
O mito leva ao dogmatismo, marcado pela desnecessidade de entender o que realmente acontece, optando por se esconder na crença de algo que lhe é apresentado como verdadeiro e indiscutível, sem admitir que possa haver algo diferente daquilo em que crê. O dogmático é, no fundo, um medroso e/ou ressentido. Passado o sentimento que o aprisiona o dogmático se liberta.
Ressurge o dogmatismo religioso e cresce o dogmatismo político/ideológico tanto à esquerda como à direita. Cresce a radicalização, os debates ficam prejudicados pela massa que abdicou do diálogo, da troca de ideias, preferindo impor suas "verdades" gritando mais alto e oprimindo os que ousam pensar diferente.
A Covid-19 é exemplo da radicalização dogmática. A pandemia trouxe surpresa, mostrando nossa impotência diante do que não compreendemos, e não sabemos enfrentar. A ciência não tem certezas, as autoridades adotam opiniões desencontradas. Cor de bandeiras, uso de cloroquina, formas de transmissão, isolamento, tudo virou dogmas.
Estupidamente, agarrados em dogmas, estamos sendo levados ao precipício.